Medicina e Ensino à Distância: uma medida urgente
A modalidade de ensino à distância é uma realidade para muitos cursos superiores tanto no Brasil quanto no mundo, mas para os cursos da área da saúde, especialmente medicina, é uma possibilidade ainda pouco indagada no país. Este tema tomou mais força neste momento devido à pandemia do COVID-19 e o isolamento social obrigatório, descontinuando, assim, as aulas presenciais em todas as faculdades do país. Mas, será que educação virtual seria algo apenas momentâneo para o contexto atual ou já é algo a se pensar como real no âmbito da educação médica brasileira?
Com mais da metade dos estudantes no mundo estando sem aula, somada às restrições de transporte e serviços¹, o Ministério da Educação emitiu uma portaria no dia 19 de março autorizando assim que as universidades superiores de todo país realizem atividades online para reduzir os atrasos de calendário acadêmico. As disciplinas que se enquadram nesta medida são de cunho teórico-cognitivo incluindo os primeiros quatro anos do curso de medicina. Além disso, Luiz Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação frisa a necessidade no cumprimento da legislação educacional, prezando pela qualidade no ensino, independente da forma de transmissão de conteúdo².
Então, neste cenário de mudanças rápidas e incertezas, o EaD certamente é uma ferramenta que será usada e poderá sair de apenas uma solução de um problema pontual e emergencial para uma ferramenta definitiva para as faculdades de medicina no Brasil. Um ponto importante a ser levantado é a possibilidade de flexibilização e manejo do tempo individual de cada estudante quando em uso de conteúdo online. Isso porque, a disponibilidade de aulas gravadas permitem ao aluno maior liberdade para garantir atenção total ao conteúdo ofertado, assistindo-o quantas vezes for necessário. Nesta premissa ainda cabe um maior tempo aos professores que podem desenvolver outras atividades teóricas ou práticas com os acadêmicos, focando sua didática de formas diferentes.
Há quem questione se, ao mudar o meio tradicional de ensino do presencial para o online, a qualidade do aprendizado seria prejudicada. Entretanto, um estudo publicado no ano de 2020 na JAMA³ avaliou estudantes do curso médico na Universidade da Pensilvânia, e evidenciou que quando os alunos foram submetidos à aulas virtuais que determinavam sua pontuação final, a dedicação no estudo era relevante, com 70% dos alunos retendo o conteúdo. Ao se aplicar isso ao primeiro ano do curso, a retenção do conteúdo chegou a quase 90% da turma. Este é um dado gritante, quando se compara à aulas presenciais que incapacitam o aluno a manter concentração total à aula, reduzindo também seu interesse ao conteúdo. Neste parâmetro, a persistência e motivação para aprender individualmente deve ser visto como algo positivo para o crescimento profissional de cada aluno, e isso é uma ferramenta que o ensino médico à distância oferece.
Outro dado relevante que o artigo trouxe, foi da alteração na carga horária na divisão entre teoria e prática nas escolas médicas que aderem ao EaD. Isso porque, quando o aluno tem chance de dedicação ao conteúdo teórico fora da universidade, há uma maior disponibilidade de tempo para dedicação à prática clínica, que soma de forma expressiva na formação do médico. Além disso, ferramentas como webconferências e o próprio whatsapp permite uma maior interação continuada entre os alunos e professores, com compartilhamento de experiências e dúvidas. Este é um fator essencial na redução das dúvidas geradas durante as aulas, contrapondo o cenário tradicional de aulas presenciais, em que alunos sentem grande inibição para questionar ou tirar dúvidas com seu tutor.
Já, quando se pensa no valor das escolas médicas na formação acadêmica, o Ensino à Distância não precisa ser visto como um distanciamento, mas como uma ferramenta para adequar a formação no contexto do mundo virtual que se vive. Além de direcionar professores para uma educação prática, colocando-os num papel de supervisão e educação clínica, o ensino médico à distância tem o poder de levar conteúdo de forma hegemônica para acadêmicos, rompendo barreiras físicas e dificuldades de locomoção que muitos sofrem ainda atualmente. Todo este panorama já é visto e compreendido por diversas empresas, incluindo nós da MedBeta, que produzem e oferecem conteúdos de forma completamente virtual.
Dessa forma, medidas emergenciais tomadas em época de Pandemia podem ser medidas permanentes, ou ao menos inspirar inovações para o contexto de educação médica brasileira, ao passo que a digitalização do conteúdo não apenas democratiza o conhecimento, quebrando barreiras físicas, como preza pela manutenção da saúde mental do acadêmico de medicina, que muitas vezes se vê confinado em salas de aulas de forma obrigatória, movido apenas por uma presença obrigatória. Então, a tecnologia mais uma vez se prova uma ferramenta não apenas útil, mas podendo ser primordial na elevação de qualidade para qualquer pilar social, sendo crucial na era do COVID-19 tanto para a própria medicina, como para a educação médica em si.
Fontes:
- https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/03/18/unesco-metade-dos-estudantes-do-mundo-sem-aulas-por-conta-da-covid-19.ghtml
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-03/instituicoes-de-ensino-superior-migram-para-ensino-distancia
- Ezekiel K. Emanuel, MD, PhD. The Inevitable Reimagining of Medical Education, JAMA. Publiched online February 27, 2020.
- https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/ministerio-da-saude-regulamenta-uso-de-telemedicina-para-combater-coronavirus.shtml