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#medicina

  • Caroline Fabro
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  • junho 1, 2020

3 passos para consumir ciência e praticar a Medicina Baseada em Evidências

Austin Bradford Hill é um nome que deveria vir à mente para todo aquele que busca entender, desenvolver e consumir ciência de forma confiável. Isso porque, pesquisas clínicas e resultados confiáveis tem sido cada vez mais pauta dentro da área da medicina, essencialmente em tempos de pandemia, que o COVID-19 tem forçado a ciência correr contra o tempo em busca de resultados imediatos. Sobretudo, junto com diversos ensaios clínicos que vem sendo publicados por grandes revistas, pauta-se o questionamento sobre o uso deste ou daquele remédio, baseado ou não em resultados clínicos, e o quanto a ciência pode ou deve interferir em ações políticas. Mas afinal, onde entra o nome Austin Hill? Na importância de sabermos desenvolver opiniões e consumir ciência pautado em critérios e no quanto a forma que a população consome ciência interfere diretamente sobre a saúde pública. Assim, já que a necessidade de consumir ciência de forma correta tem sido uma medida urgente tanto quanto a descoberta da cura para o vírus SARS-COV2, vou construir um passo-a-passo, para deixar claro e simples a compreensão da medicina baseada em evidências.

1º Passo: por onde começa uma pesquisa

Dentro da medicina, o foco de estudos científicos de forma geral é baseada na caracterização fisiopatológica de uma doença, seus efeitos na saúde humana e a busca pela sua cura. Então, foi no século XIX que Austin Hill, um epidemiologista e estatístico inglês, desenvolveu critérios para o desenvolvimento de estudos clínicos. Os seus critérios envolvem diretamente a associação de causa e efeito, e incluem força da associação, consistência, especificidade, temporalidade, gradiente biológico, plausibilidade biológica, coerência, evidências experimentais e analogia. Isso tudo só para deixar claro que não basta apenas uma suposição para uma conclusão direta, mas que estudos com ensaios clínicos precisam de consistência e aplicabilidade. 

A partir então de um objetivo determinado e um protocolo desenvolvido, uma pesquisa científica exige uma metodologia estruturada e com uma revisão de literatura de qualidade. Uma ampla e criteriosa revisão de literatura agrega rigor científico à pauta da pesquisa, aumentando seu nível de evidência e grau de confiabilidade. Além disso, há requisitos que tornam uma pesquisa ainda mais concreta e que podem se resumir no acrônimo “FINER”: factível, interessante, nova (inovadora), ética e relevante¹. Nestes requisitos, o factível é o que primeiramente interfere na realização da pesquisa e em seus resultados, ao passo que dentro deste critério inclui um planejamento, conhecimento técnico da causa, experiência e tempo. Fatores complicadores para o contexto atual das pesquisas clínicas sobre o Coronavírus, que então exigem outros parâmetro de confiabilidade, como o próprio tipo de estudo e o método utilizado. 

2º Passo: entendendo tipos e métodos de pesquisa clínica

Quando se define o tema e o objetivo de uma pesquisa, é concomitante a estruturação do tipo e método do estudo, os quais influenciam diretamente no nível de evidência e resultados pretendidos. O método que o estudo seguirá é o que define o meio pelo qual será feito o estudo para atingir seus objetivo. Assim, pode-se definir o tipo a partir de uma classificação, que envolve finalidade, natureza, abordagem, etc. A partir disto, a pesquisa será descrita como observacional ou experimental, ou se sua abordagem é qualitativa ou quantitativa, ou ainda baseada no tempo de desenvolvimento do estudo, podendo ser então um estudo transversal, longitudinal, prospectivo ou retrospectivo.

Na medicina, a seleção do método da pesquisa é um critério muito importante, ao passo que envolve a saúde humana, direta ou indiretamente. Isso porque, a escolha de se desenvolver um estudo intervencional, por exemplo, expõe o ser humano à mediações diretas do estudo, seja com uso de experimentos, testes de exames ou uso de fármacos. Quanto mais intervencional e prolongado, mais complexo e embasado deve ser o estudo, porém trazendo também maior consistência e aplicabilidade prática. 

O tipo de estudo já é algo que define muito mais o nível de confiança que os seus resultados trarão e sua aplicabilidade prática na medicina. É a partir do tipo de estudo que você é capaz de inferir o grau de evidência e o nível de recomendação. O primeiro determina a relevância do estudo e sua aplicabilidade e o segunda demonstra a metodologia utilizada. A partir disso, existe uma hierarquia dentro da metodologia científica que imputa no uso prático de determinado estudo para sua prática clínica. A classificação deixa mais claro o porquê desta hierarquia, entenda:

  • Revisão sistemática: é o tipo de estudo que se propõe revisar de ordenada e metodizada buscando a resposta para uma pergunta objetiva e imparcial. Faz-se uso de fontes com dados na literatura e podem ser feitas com ou sem meta-análise. Assim, a revisão sistemática possui o mais alto grau de evidência, ao passo que é um acúmulo de diversos estudos para uma avaliação criteriosa se algum dado ou resultado é comum e factível ou não. A meta-análise agrega valor ao estudo, ao passo que inclui a síntese estatística dos resultados.² 
  • Ensaios clínicos randomizados: Designa basicamente um tipo de estudo experimental feito em seres humanos e objetivo avaliar o resultado de determinadas intervenções médicas. O termo “randomizado” o diferencia de outros estudos clínicos, ao passo que faz uso de intervenções com um espaço amostral selecionado aleatoriamente, evitando assim fatores de confusão sobre causa-efeito.³ Diferente da Revisão de Literatura, o ensaio clínico randomizado é um estudo primário e que desenvolve alto grau de evidências a partir da obtenção de resultados práticos e sistematizados. Eleva-se ainda mais o seu nível  de recomendação quando o estudo é duplo-cego, ou seja, quando nem o objeto de estudo (paciente) nem o examinador sabem exatamente qual é a variável sendo aplicada no determinado momento. São nesses casos também que se incluem populações para caso-controle com uso ou não de placebo.
  • Estudos de coorte: É um tipo de estudo abaixo dos dois anteriores pelo fato do pesquisador limitar-se a analisar uma determinada população e identificar fatores de risco ou características comuns em relação a alguma enfermidade específica ou não. Também conhecido como estudo prospectivo, este tipo de estudo possui um método longitudinal, sem intervenção direta do pesquisador.
  • Estudo de caso-controle: É o tipo de estudo que usa a metodologia a partir de modelo retrospectivo, no qual o pesquisador avaliar a relação entre pacientes que possuem ou não doenças em comum. Este estudo faz uso de dois grupo, no qual um envolve o caso estudado, e o outro é utilizado como controle para posterior comparação. Pelo fato de não possui intervenção ou observação prospectiva, possui um reduzido nível de evidência. 
  • Relato ou série de casos: Este tipo de estudo envolve simplesmente a observação e o relato de um ou mais casos que possam agregar algum valor de conhecimento para o cenário médico. Por ser bastante específico e restrito, acaba não possuindo alto nível de evidência, mas possui seu grau de importância, ao passo que pode ser pioneiro na descoberta de diagnósticos ou tratamentos novos.4 Quando se identifica algum paciente com quadro clínico peculiar, raro, este merece ser descrito e agregado a literatura médica, abrindo portas para mais pesquisas em cima do determinado tema.
  • Artigo de opinião: Apresenta-se na base da pirâmide hierárquica de evidências científicas, por se apresentar como um texto dissertativo-argumentativo que se baseia simplesmente na opinião do autor. Possui valor essencialmente quando é escrito por renomados cientistas ou médicos especialistas da área, porém possui muito baixo nível de evidência ou grau de recomendação, não podendo ser único tipo de estudo a ser utilizado como base para formar opinião ou desenvolver condutas clínicas.

3º Passo: Fontes adequadas e confiáveis

Entender como funcionam as pesquisas e ensaios clínicos não é suficiente para o consumo apropriado de ciência, pois tão importante quanto ler, é saber a fonte pelo qual se está obtendo conhecimento. Isso é cada vez mais evidente com o aumento de fake news, especialmente nesta época de pandemia, mas isso já foi falado aqui no blog. Assim, para quem estuda ou trabalha na área da saúde, é essencial que se conheça fontes confiáveis que publicam estudos com alto nível de evidência. Para isso, vou listar abaixo as principais e mais tradicionais revistas científicas focadas em medicina da atualidade:

The Lancet – É uma revista criada em 1823 e com um alto fator de impacto, com publicações semanais, publicada pela Elsevier no Reino Unido.

The New England Journal of Medicine – Fundada em 1812 por Dr. John Collins Waren, possui alto nível de impacto e também emite publicações semanais, pela pela Massachusetts Medical Society.

Journal of the American Medical Association (Jama) – Com maior número de publicações anumais, tem um alto fator de impacto e é uma das mais clássicas revistas médicas. 

Nature Medicine – É uma revista mais recente, fundada em 1995 que publica mensalmente, mas com pesquisas interdisciplinares, abrangendo diversas áreas da saúde.

Science – Outra revista que aborda inovação médica tão prestigiada quanto a citada anteriormente, fundada em 1880.

Revista Brasileira de Educação Médica – É uma revista com quase 40 anos de história com publicações pela Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). Pode-se buscar seus periódicos a partir da Scielo (Scientific Eletronic Library Online).

Além das revistas supracitadas, são fontes adequadas de pesquisa científica os sites que trabalham como uma biblioteca eletrônica, na qual possuem como propósito a publicação de artigos de qualquer parte do mundo, em diversas linguagens e diferentes autores, no qual incluem o próprio Scielo já citado, PubMed,  Portal Capes, ou até mesmo o Google Acadêmico, se utilizado com descritores adequados. São com estas ferramentas em mãos somadas à critérios de tema, época e tipo de estudo que um acadêmico de medicina ou médico deve se munir para praticar então a medicina baseada em evidência. E é com o contexto atual de coronavírus, fakenews e corrida contra o tempo que a ciência sofre para se sobrepor à crenças e desespero popular, provando que precisamos cada vez mais de informações concretas para a prática também concreta da medicina, baseada cada vez mais em evidências e coerência. 

Referências:

  1. Fontelles MJ, Simões MG, Farias SH, Fontelles RGS. Metodologia da Pesquisa Científica: diretrizes para a elaboração de um protocolo de pesquisa. Núcleo de Bioestatística Aplicado à Pesquisa da Universidade da Amazônia – Unama. Amazonas, 2009.
  2. Sampaio RF, Mancini MC. Estudo de Revisão Sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Rev. bras.fisioter., São Carlos, v. 11, n. 1, p. 83-89, jan./fev. 2007.
  3. Souza RF. O que é um estudo clínico randomizado? Medicina (Ribeirão Preto) 42 (1): 3-8. Publicado em http://www.fmrp.usp.br/revista, 2009.
  4. Yoshida WB, Redação do relato de caso. J Vasc Bras 2007; Vol 6, mºnº 2:112-113.


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  • Caroline Fabro
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  • maio 26, 2020

A Construção de um Currículo Paralelo na Medicina

Todo acadêmico de medicina que se preze, pode até não conhecer o conceito de currículo paralelo, mas certamente o faz – e muito – na prática. Isso porque, o chamado currículo paralelo pode ser conceituado “conjunto de atividades extracurriculares que os alunos desenvolvem, subvertendo, na maioria das vezes, a estrutura curricular formal estabelecida pela Faculdade”, como bem descreve Rego¹. Este conceito está incluso num termo mais amplo denominado por Currículo Oculto, o qual inclui não apenas a busca por conhecimento paralelo, mas também inclui todo conhecimento passivo e ativo que é adquirido dentro e fora das salas de aula, bem como foi falado em nosso último post. 

O currículo paralelo é então uma expressão pouco abordada em meio acadêmico, mas que faz parte da vida e da formação de futuros doutores, os quais precisam receber mais do que apenas conhecimentos técnicos, experiências, hábitos e valores que assim, elevarão seu nível profissional futuramente. E isto já é tão claro e essencial, que as universidades não apenas aceitam como estimulam a adesão de acadêmicos à atividades extracurriculares que possam sanar o vão que ainda existe na grade curricular padrão das universidades brasileiras. Isso porque, perante a responsabilidade que existe sobre a profissão médica, o que o acadêmico busca com um currículo paralelo no fim das contas, como evidenciam pesquisas², é experiência clínica e aperfeiçoamento curricular. E quando se busca experiência clínica, o primeiro aspecto a se pensar é: que tipo de experiência você está buscando adquirir?

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Atividades extracurriculares dentro da universidade

A prática clínica no curso médico é evidente em maior montante apenas nos dois últimos anos do curso, sendo os primeiros anos acadêmicos majoritariamente teóricos. Pelo fato então do acadêmico estar desde o início em busca da prática clínica para adquirir um currículo paralelo mais profuso possível, busca-se atividades extracurriculares desde o primeiro período do curso. Mas, antes mesmo de sair buscando adentrar-se em todas atividades complementares, é preciso algum nível de planejamento e metas sobre tipo de conhecimento que se busca. Isso porque o currículo paralelo é um mundo à parte dentro do curso médico com diversas possibilidades, as quais as principais incluem:

Monitorias

É um espaço de aprendizado a partir da prática do conteúdo teórico ensinado por alunos avançados e supervisionada por professores e/ou médicos. Em muitas universidades as monitorias se incluem como carga horária obrigatória dentro da grade curricular formal, mas pode ser uma alternativa como atividade extracurricular, principalmente dentro de ligas acadêmicas e projetos de extensão. É a forma mais eficaz para o desenvolvimento de habilidades técnicas e vivência da prática médica em sua essência. 

Ligas acadêmicas

São organizações desenvolvidas pelos próprios alunos, com coordenação de algum médico ou professor da área de enfoque da própria liga acadêmica. Têm como objetivo principal aprofundamento teórico e prático em alguma determinada área médica específica. Podem ser criadas ligas de qualquer tema, seja ele amplo – como cardiologia, gastroenterologia, pneumologia, emergência – como específico – feridas, transplante de fígado, etc. De forma geral, exige-se algum tipo de avaliação, seja prova teórica ou entrevista para a participação de ligas acadêmicas, e ao adentrar, o aluno participa de aulas teóricas, apresentação de seminários, simpósio, além do desenvolvimento de projetos de extensão e pesquisa, além da prática com plantões, ambulatórios ou enfermarias. É uma via adequada para aquele que deseja se aprofundar em algum tema específico, porém, de forma geral pode exigir bastante tempo e dedicação do aluno, pelo fato de incluir diversas atividades exigidas para completar o tempo e receber o certificado. 

Projetos de Extensão

A extensão dentro da universidade trata-se de um processo educativo, cultural e científico no qual estabelece relação entre o acadêmico e outros grupos sociais dentro ou fora da própria universidade. Envolve o desenvolvimento de atividades teórico-práticas que integrem o estudante à realidade social do país, com atuação em espaços diferenciados para exercer a prática médica de diferentes formas. Compreende uma atividade extracurricular com atuação com pacientes dentro de hospitais, ou fora deles, onde a saúde se mostra deficiente em aspectos sociais, como em grupos de risco – comunidades carentes, moradores de rua. Projetos de extensão podem desencadear inúmeros focos, mas no fim sempre agregando valor ao currículo médico.

Pesquisas 

Iniciação científica com projetos de pesquisa clínica ou laboratorial é a via de saída que pode ser talvez, uma das atividades extracurriculares mais trabalhosas, mas também mais recompensadora ao currículo paralelo. Isso porque, é a partir da pesquisa que se é capaz de conquistar a área científica com o desenvolvimento de artigos científicos, além do alcance de conhecimento da medicina baseada em evidência, tão essencial para a medicina contemporânea. Esta área de atuação não soma apenas em horas complementares abundantes, como também agrega muito valor ao currículo lattes, podendo somar pontuação que diferencie nota em provas de residência. Não obstante a isto, é cada vez mais evidente a necessidade do embasamento científico ao acadêmico de medicina, quando nos deparamos com uma pandemia mundial gerada por um vírus conhecido que tem gerado tanta especulação sobre a importância e predominância do cientificismo perante a saúde pública.

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O currículo paralelo também está fora da universidade

Há de se lembrar que existem atividades que incluem um currículo paralelo mas  nem sempre é lembrado ou valorizado pelo próprio acadêmico. Exemplo disso são as disciplinas optativas das próprias instituições de ensino, as quais nem sempre são cogitadas pelo aluno, mas podem elevar seu nível intelectual em aspectos que o destaquem no futuro. Isso porque, de forma geral, as grades curriculares tradicionais infelizmente não incluem disciplinas sobre manejo de medicina preventiva e/ou paliativa, áreas essenciais para a formação médica adequada. E com isso, o foco estabelecido pela medicina curativa impede que conhecimentos como psicologia, nutrição, atividades físicas, cuidados paliativos tenham valor na formação. Assim, pesquisar as disciplinas optativas que a universidade oferece e valorizar áreas que tendem a crescer na saúde brasileira devem ser consideradas no currículo paralelo. 

O que não tem como ser deixado de lado é também o aperfeiçoamento de línguas estrangeiras – essencialmente o inglês – para a carreira médica. É inegável que este conhecimento atualmente é não apenas complementar como necessário para qualquer futuro médico, seja para sua atuação clínica como para atualização de conhecimento através de leitura de artigos, ou mesmo desenvolvimento de artigos e participação em congressos. Somado a isso, o aprendizado de uma língua além da nativa faz parte do currículo paralelo agregando muito valor à um currículo lattes, aspecto sempre valorizado quando o currículo é determinante para algum objetivo, seja ele a residência médica ou conquista de vaga de emprego em determinado serviço de saúde. 

Também é válido lembrar que a realização de cursos online são uma cereja no bolo para o aperfeiçoamento tanto do currículo como do próprio conhecimento técnico. Neste cenário se inclui a própria MedBeta, que tem por objetivo oferecer ao acadêmico de medicina aquele conhecimento essencial que pouco, ou nada, é dado na universidade através da grade curricular. Incluem cursos como Medicina Baseada em Evidências, Sinapse, Spotlight e Por Baixo do Jaleco, dos quais abordam assuntos desde estudo científico até como melhorar a forma de aprender, desenvolver um bom currículo e melhoria do próprio comportamento visual dentro do curso médico. É possível ainda a realização de cursos de atualização em determinados temas que de anos em anos alteram seus protocolos médicos, como ATLS ou ACLS, por exemplo. 

Mesmo que estudos²,³ destaquem como critérios de acadêmicos de medicina na busca do currículo paralelo o aprimoramento curricular, busca de prática médica ou até mesmo remuneração, é fato que na medicina apenas o conhecimento teórico pode ser estático, sendo o manejo clínico dinâmico conforte o contexto que estamos inseridos, e a responsabilidade médica sobre seus pacientes deve ser o principal objetivo na construção curricular. E atualmente, com novas doenças surgindo, colocando em xeque atitudes médicas perante cenários incertos, que o currículo paralelo se faz ainda mais presente. Isso porque, a busca por conhecimento, seja para currículo, seja para prática clínica transcende as paredes da universidade e os 6 anos de curso médico, sendo algo permanente na vida de qualquer médico que anseia destaque e sucesso em sua carreira como profissional que busca ser honesto e responsável não só com a ciência, como com a vida dos pacientes que estará em suas mãos.

Referências

  1. Rego, S. Parallel curriculum in Medicine, clinical practice, and Problem Based Learning: is there a way out? Interface Comunicação, Saúde, Educação, v.2, n. 3, 1998.
  2. Neto JAC, Sirimarco MT, Cândido TC, Ferreira IA, Campos RCF, Martins SC. Students’ perspectives on the parallel curriculum in medical schools. Rev. Med Minas Gerais 2013; 23(4): 467-478.
  3. Tavares CHF, Maia JA, Muniz MCH, Malta MV, Magalhães BRC, Thomaz ACP. The “Parallel Curriculum” of Third-year Medical Students of the Federal University of Alagoas. Revista Brasileira de Educação Médica 31 (3): 245 – 253; 2007.
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  • Caroline Fabro
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  • maio 19, 2020

CURRÍCULO OCULTO: O QUE NÃO ESTÁ NO SLIDE DO PROFESSOR

O significado da palavra “currículo”, expressão de origem latina, refere-se ao ato de percorrer, completar um percurso. Este tema é de grande preocupação para todo acadêmico de medicina desde o seu primeiro período do curso, que busca agregar conhecimento teórico e prático desde o início de sua carreira. Mas neste contexto, desde 1968 a expressão “currículo oculto” surge no meio do ensino médico, acentuando que podem existir falhas na grade curricular tradicional. Isso porque, este termo designa todo aquele conteúdo essencial para formação de um profissional completo e que não se fala em sala de aula ou não se inclui em uma grade curricular, tal como o ensino de habilidades comportamentais ou ensinamentos sobre planejamento profissional. Nesse contexto, questionamos o quanto a ausência de um currículo completo para uma formação   médica íntegro pode prejudicar na vida acadêmica, profissional e pessoal de futuros doutores, na ausência de conhecimentos essenciais para a construção de uma carreira sólida. 

Então, mesmo que o objetivo da formação médica inclua o desenvolvimento de habilidades cognitivas, psicomotoras e comportamentais, nem sempre isso tudo é abordado dentro de uma sala de aula. Isso se demonstra principalmente com o grande índice de acadêmicos que buscam atividades extracurriculares durante toda a sua formação, muitas vezes sacrificando horários de descanso à procura de mais conhecimento teórico e, principalmente, prático. Isso se evidencia ainda mais com estudos que analisam a visão do próprio acadêmico neste cenário, como um realizado com acadêmicos de medicina da UFMG¹, o qual evidenciou a aquisição de prática clínica como a principal motivação dos estudantes quando buscam fazer atividades extracurriculares que se encaixem na formação paralela. A segunda motivação, a busca de um currículo melhor, também é uma grande preocupação para todos os acadêmicos, que sabem que muitas provas de residência usam este critério para agregar pontuação final. 

O lado bom do currículo informal

Desde a década de 1920 que a grade curricular médica vem sofrendo alterações para estruturação com maior protagonismo acadêmico dentro de ambientes hospitalares². O Relatório Flexner foi a primeira mudança paradigmática na alteração do cenário de ensino, e desde então que vem se repensando no aprimoramento cada vez mais do ensino médico, essencialmente no Brasil, que tanto se discute na formação de habilidades médicas voltadas à medicina humanizada. Porém, acima de qualquer grade curricular, é coerente avaliar que a busca de conhecimentos além da formalidade acadêmica são essenciais para a formação técnica e desenvolvimento de habilidades sociais para qualquer futuro doutor. 

Construir um currículo informal, buscando comprometimento com atividades que exijam dedicação além das horas acadêmicas obrigatórias, é capaz de desenvolver no acadêmico um senso de responsabilidade e comprometimento com a construção do seu futuro. São atividades como ligas acadêmicas, iniciação científica, monitorias, estágios voluntários que são capazes de agregar conhecimento, valor curricular e contribuição social, além de capacitar um futuro médico com maiores chances de destaque em sua área. 

Mais do autor: Quero investir: o que preciso saber?

Currículo oculto: o que não deveria ser ocultado

É bom lembrar que o currículo oculto, vai muito além da busca pelo conhecimento que falta na sala de aula. Aquele conhecimento essencial, porém ausente em sala de aula traz consequências que surgem dentro do ensino médico e pode se estender à carreira: deficiência de conhecimento técnico e postura social, ausência de planejamento de carreira que podem gerar frustrações futuras. Somado a isso, um ponto de destaque é o gritante crescimento de indivíduos que apresentam sintomas de ansiedade e depressão dentro das universidades brasileiras, não apenas pela submissão a pressão em estudo de provas, mas pela insegurança sobre seu futuro e obsessão pela realização de atividades complementares. O desespero por um bom currículo e complementação de horas extracurriculares obrigatórias tornam o acadêmico, principalmente quando se fala de medicina, um escravo da sua universidade. 

Dentro da universidade, antes mesmo de adquirir um diploma, estudantes de medicina se vêem subordinados à obrigação de buscar um currículo perfeito somado à adesão de conhecimento para garantia de uma carreira sem erros. É natural compreender certo nível de insegurança, perante a responsabilidade social imposta à profissão médica. Mas vale refletir sobre o quanto as exigências na busca compulsiva por atividades que tomam grande parte do tempo dos acadêmicos podem gerar futuros médicos adoecidos. E isto é só mais um detalhe dentro dos problemas na formação médica, visto que a síndrome de Bournout está até mesmo banalizada. 

É nas sombras da conquista do CRM que surgem outros problemas da falta de alguns conhecimentos básicos ainda na formação médica, como um planejamento de carreira e do próprio enfrentamento da realidade de vida profissional, elementos que fazem parte do currículo oculto – que nem todo acadêmico é capaz de enxergar. Isso porque, mesmo que os dois últimos anos de medicina sejam concentrados em prática hospitalar, pouco é falado sobre a necessidade de autopreservação e pés no tangência da vida profissional. Autopreservação porque nem sempre se fala que médico também faz parte das estatísticas epidemiológicas, realidade mais evidente agora em tempos de COVID-19. O adoecimento da classe médica, seja por depressão ou doenças naturais é uma realidade pouco explorada dentro da universidade. Isso se destaca cada vez mais, com medicina a classe profissional com maior índice de suicídios³. 

A adequação do jovem formado à realidade médica também é outra questão que se inclui ao currículo oculto e irreal à formação curricular. Isso porque, o planejamento de carreira, com a construção de um percurso sólido e coerente dentro da medicina é algo pouco ou nada mencionado dentro de sala de aula, mesmo sendo um aspecto essencial a ser refletido por qualquer futuro profissional que se vê desvendando seu próprio futuro às cegas. Entender que a profissão médica é semelhante à qualquer outra, que exige um planejamento para a construção  de carreira pautada não apenas em trabalho, mas também no crescimento no âmbito pessoal e profissional ainda é um uma “matéria” que infelizmente, só se aprende com experiência de vida com erros e acertos individuais. O problema nisso tudo? Médicos e acadêmicos com boa formação técnica, porém afundados nas mazelas de uma depressão e frustrações decorrentes das falhas de uma grade curricular que abranja além de bioquímica, anatomia e fisiologia. O currículo oculto é uma formação alheia aos slides do professor, que nenhuma grade curricular é capaz de abranger, mas que precisa ser explanado para a classe acadêmica, que busque além dos conhecimentos técnicos, mas que compreenda realmente que currículo é percurso, não só até o CRM, mas até o sucesso da vida profissional em todos os seus âmbitos. 

Mais do autor: Imagem profissional: o médico deve se preocupar com sua aparência?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Tavares AP, Ferreira RA, França EB, et al. O “Currículo Paralelo” dos Estudantes de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Revista Brasileira de Educação Médica, 31 (3): 254-265; 2007;.
  2. Costa BEP, Hentchke MR, Silva AC, et al. Reflexões sobre a importância do currículo informal do estudante de medicina. Scientia Medica (Porto Alegre) 2012; volume 22, número 3, p. 162 – 168.

Sites

  • https://drclesiocastro.com.br/licoes-que-a-faculdade-de-medicina-nao-lhe-ensinou/
  • https://drvictorsorrentino.com.br/suicidio-entre-medicos/
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  • Caroline Fabro
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  • maio 11, 2020

QUERO INVESTIR: O QUE PRECISO SABER?

Anteriormente, em nosso último post, falamos sobre a importância do médico buscar entender sobre gestão financeira e o mundo dos investimentos para sua carreira. Não basta apenas saber economizar, mas saber trabalhar o seu dinheiro para fazê-lo render. Após ler o texto anterior, você pôde compreender a diferença de uma previdência privada para independência financeira e por onde começar a investir seus salários iniciais. Bem, mas para qualquer coisa que você busca fazer na vida, você precisa saber das ferramentas para atingir sua finalidade. No mundo dos investimentos, não é diferente. 

Não vamos falar aqui especificamente sobre como fazer investimentos, mas basicamente conceitos e ferramentas que um médico – ou qualquer pessoa que queira entrar nesse mundo – precisa saber para adentrar neste tipo de atividade.

Poupança vs Investimento

Primeiro, é essencial que saibamos diferenciar os conceitos de poupar e investir. Inserir uma carga de dinheiro numa poupança pode ser uma medida de reserva emergencial, porém com pouco retorno financeiro, ao passo que as taxas ainda são baixas sobre o dinheiro emprestado. Já o investimento envolve uma mais ampla análise de mercado, de renda e aplicações. 

Além disso, nem sempre a poupança é capaz de te garantir um rendimento, podendo gerar até mesmo prejuízos. Isso porque, sua taxa depende de juros equivalentes à taxa Selic – porcentagem definida pelo Banco Central a cada 45 dias – somada à uma taxa básica de juros definida pelo governo, denominada Taxa Referencial (TR), sendo deste modo, um valor independente de qual banco foi escolhido para depósito. O grande problema é quando a inflação aumenta a uma porcentagem superior à taxa da poupança, fazendo que seu dinheiro investido perca valor e você não agregue lucros. 

Outra problemática do investimento em poupança é que sua rentabilidade do mês é perdida quando o saque é feito fora da data de aniversário – aquele dia do mês em que a aplicação foi inicialmente feita. Outro ponto negativo é a possibilidade de perda de dinheiro quando um banco entra em falência, sendo possível um saque máximo de R$250.000, com exceção à Caixa Econômica Federal. Mas claro, isto é uma situação um pouco mais rara. 

Já, uma grande vantagem sobre investimentos em poupança, sendo o que mais seduz o brasileiro é não haver valor mínimo para fazer o depósito inicial, além de isenção de taxas de custo, como decaem sobre conta corrente, por exemplo. Entretanto, mesmo que a poupança aparente ser um meio de investimento seguro, é possível depositar seu dinheiro, mesmo com um valor baixo em outro tipo de aplicação: o Tesouro Direto.

Afinal, o que é Tesouro Direto?

O Tesouro DIreto é um tipo de investimento criado a partir do Tesouro Nacional, órgão que gerencia as finanças e dívidas do Estado. Dessa forma, ao fazer um investimento em Tesouro Direto comprando um título, você passa a emprestar seu investimento ao governo para finanças públicas. Esta modalidade apresenta maior segurança ainda que a poupança, pois possui 100% de garantia de retorno do dinheiro investido. Além disso, gera maior rendimento, pois garante pagamento de 100% da taxa Selic, contrastando com a poupança que rende 70% desta mesma taxa. Ah, vale lembrar também que o investimento mínimo inicial é de R$30 e o investimento é feito pela compra de títulos públicos. 

Existem três grupos de títulos públicos passíveis de compra no Tesouro Direto: prefixados, pós-fixados e híbridos. O primeiro grupo garante que o investidor saiba exatamente o valor que receberá de retorno quando o resgate for feito após o vencimento do título. Já em papéis pós-fixados, é possível saber os critérios de lucro, entretanto sem garantia do valor exato de retorno do investimento, ao passo que apresenta variações. Em títulos híbridos, como o próprio nome demonstra, é uma associação dos dois tipos anteriores, garantindo uma parte da remuneração final sem saber o restante atrelado à taxa de inflação. 

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Outros tipos de investimentos

O tesouro direto, mencionado acima, é um tipo de aplicação por renda fixa, ou seja, o qual é possível ter uma boa previsão de retorno de lucros. Outros títulos de renda fixa que podemos citar são CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI e LCA (Letras de Crédito isentas de Imposto de Renda), LC (Letras de Câmbio) e os Fundos de Renda Fixa. Todos tem em comum a emissão por algum tipo de organização, seja governo, empresas bancárias ou financeiras. De forma geral, aplicação com renda fixa trás alguma garantia de investimento com poucos riscos e maior estabilidade, contudo com baixa margem de lucros.

Já investimentos em renda variável incluem aquelas aplicações que apresentam grandes oscilações de valor no mercado imprevisíveis e dependentes de fatores comerciais, e podem sofrer grandes perdas em épocas de crise. Exemplos de tais tipos de investimentos são: Fundos Multimercado, Fundos Imobiliários, Fundos de ações, COE (Certificado de Operações Estruturadas) e Mercados de Ações. Investir nestes setores se pautam na lei da oferta e procura, com altas oscilações em curto prazo. Mas vale lembrar que quanto maiores os riscos, também podem ser maiores os lucros (ou prejuízos).

Por onde começar?

O primeiro passo é avaliar o tempo que deve durar o investimento aplicado. Quando se pensa em investir em imóveis, algo tão almejado, deve-se avaliar que o investimento em geral é a longo prazo e apresenta risco de liquidez. Isso significa que o investimento varia conforme a situação econômica do país, depende do mercado e pode sofrer crises econômicas. Numa situação em que a população está financeiramente prejudicada, será necessário submeter-se a comercializar o imóvel a preços baixos ou aguardar um momento mais adequado para sua venda. Isso evidencia que a aplicação financeira em imóveis não se encaixa em um investimento para reserva de  emergência. 

Outro ponto a ser avaliado é o estudo sobre qual será fundos de investimento. Ao se escolher investir em fundos com renda fixa, você estará dedicando seu dinheiro em uma aplicação estável, com menos riscos, mas também com menos chance de lucros a curto e médio prazo. Poupanças e Tesouro Direto podem ser maneiras seguras para aplicar um capital, mas não garante altos lucros a curto prazo, sendo até mesmo uma opção de investimento prefixados, com retorno lucrativo já determinado. Já, quando se decide aplicar o próprio dinheiro em um investimento com renda variável, a exposição a riscos de mercado e perdas financeiras são maiores, a lembrar da situação atual com o valor do barril de petróleo por exemplo, que sofre quedas bruscas conforme a variação do dólar. Entretanto, ao investir em ações de renda variável, a grande vantagem está na chance de altos lucros, quando se faz uma aplicação consciente e com conhecimento de mercado. 

A decisão sobre qual tipo de investimento afinal aplicar seu crédito, é fazer análises criteriosas do mercado no momento do investimento, estudar as empresas no qual se deposita o capital, além do cálculo de taxas e do valor da moeda trabalhada. Há quem acredite que a renda fixa é o melhor tipo de investimento para iniciantes, mas vale lembrar que  para um investidor em idade jovem, a chance de recuperação de uma perda financeira grande é muito mais plausível do que para um idoso. Então, quando um médico jovem passa a ganhar dinheiro, é válido avaliar a possibilidade de direcionar maior parte do seu capital em investimentos, e reduzir progressivamente esta conta ao envelhecer. Estabilidade se busca na idade senil

Como dito no início, gestão financeira é um mundo à parte, mas que deve ser incluída na vida de qualquer indivíduo que quer multiplicar seu dinheiro e garantir independência financeira. Além disso, vale lembrar também que a profissão médica é uma montanha russa, passível de desvalorização salarial futura. Saber investir já não é mais um luxo daqueles que gostam de números, mas uma necessidade para garantia de um futuro  financeiro promissor e sucesso. Para isso, não se esqueça da primeira lição do livro Pai Rico, Pai Pobre: “não trabalhe pelo dinheiro, faça-o trabalhar para você”.

Mais do autor: Imagem profissional: o médico deve se preocupar com sua aparência?

Referências:

  1. A Rajna. FInancial Management Attitude and Practice among the Medical Practitioners in Public and Private Medical Service in Malaysia. International Journal og Business and Management, Vol. 6, No 8; August 2011.

Sites:

  • https://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/medicos-sao-alvo-de-servico-de-planejamento-financeiro/ . Acessado em 21/04/2020.
  • https://www.bussoladoinvestidor.com.br/nao-investir-na-poupanca/ Acessado em 09/05/2020.

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  • Caroline Fabro
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  • abril 29, 2020

GESTÃO FINANCEIRA NA MEDICINA: NÃO É SÓ QUESTÃO DE ECONOMIZAR

Gestão financeira é um assunto que em geral, não é estudado nem em ensino fundamental, médio ou superior, exceto em graduações relacionadas à finanças e administração. E, por isso, acaba se tornando algo que os profissionais aprendem através de um “currículo oculto” da vida mesmo, forçados pelas obrigações em pagar contas e gerenciar seu dinheiro quando chega em idade adulta e passa a receber seu salário. 

Um estudo¹ realizado com médicos na Malásia constatou que, dos 402 entrevistados, apenas um terço gerencia adequadamente suas verbas, ainda que mais de 90% admitam a necessidade de um conhecimento e prática sobre gestão financeira. Já no Brasil, um dado relevante é sobre um estudo feito por uma corretora² com médicos do Distrito Federal, para avaliar o perfil financeiro de 106 residentes através de questionários. Chama atenção o grande número de médicos com algum tipo de dívida (31%), sendo que parte destes admitiram conter dívidas pela falta de controle orçamental . Tais estudos atentam para um grupo de profissionais que, mesmo possuindo padrões salariais considerados elevados frente à média nacional, não desenvolvem uma gestão financeira adequada, seja por falta ou de conhecimento ou de tempo.

Mesmo que os estudos supracitados representem uma restrita parte de profissionais médicos, é possível notar que gestão financeira é um tema ainda nebuloso e confuso, ao passo que é um assunto pouco ou nada abordado em grades curriculares do ensino superior. Soma-se a este fato, aqueles acadêmicos que geram dívidas desde o início da própria vida acadêmica, ao adentrarem em instituições privadas que os forçam a financiar o pagamento do seu curso. Mas, é possível que dívidas e déficit financeiro deixem de ser uma realidade, e como já dizia Robert Kiyosaki em seu livro Pai rico, Pai pobre: “para garantirmos um futuro bem sucedido financeiramente, é necessário que o dinheiro trabalhe para nós, e não que trabalhemos pelo dinheiro. Mas isso exige tempo, conhecimento e dedicação”.

GESTÃO FINANCEIRA DO MÉDICO: POR ONDE COMEÇAR? 

O fato da profissão médica possuir áreas de atuação variadas, permite que o médico seja um profissional liberal, tornando-o vulnerável à variações salariais devido a fatores como trabalho em regime de plantões ou a própria falta de pagamentos. Isso exige uma gestão financeira básica para que possíveis dívidas não superem o valor que ele recebe ao final do mês. Então,é necessário prestar atenção em alguns aspectos para se gerir melhor o seu dinheiro. Vamos aqui fazer um passo a passo de como melhorar a gestão do seu dinheiro.

RESERVA DE EMERGÊNCIA

 Uma das primeiras medidas ao iniciar a carreira é desenvolver metas financeiras. E, uma das primeiras metas que se deve ter é a de possuir uma reserva de emergência. É ela que vai te proteger de eventuais intempéries financeiras e segurar a barra em caso de doenças ou eventualidades que ocorram. Isso se torna evidente no momento atual, com a pandemia do Coronavírus, no qual diversas empresas vêm declarando falência pela impossibilidade de manter suas contas. Dessa forma, uma reserva financeira, idealmente que cubra ao menos 3 meses de contas, garantem uma lacuna de tempo para que qualquer indivíduo consiga se restabelecer financeiramente. 

Quando se pensa em investimentos com fins de reserva de dinheiro, o investimento em renda fixa com liquidez (por exemplo, investir em Tesouro com taxa Selic) é uma excelente opção, pois permite um resgate rápido do valor investido. 

APOSENTADORIA

Você já se questionou se o seu desejo para a terceira idade é garantir uma aposentadoria abundante ou independência financeira? Provavelmente, desde jovem, você é direcionado a pensar na primeira opção, pois é o reflexo do pensamento popular: garantir altos salários em idade ativa para assegurar uma aposentadoria confortável. Entretanto, diferente da aposentadoria, que é um valor fixo mensal, que depende do valor médio salarial de toda sua vida, a independência financeira permite domínio do próprio montante mesmo na velhice e assim, você pode escolher como deseja envelhecer, tornando-o independente do Estado ou de empresas de previdência privada. Para isso, equilibrar finanças, desenvolver metas e realizar investimentos são alguns passos essenciais para conquistar a sua independência e garantir autonomia continuada sobre seus bens.

INVESTIMENTOS E APLICAÇÕES FINANCEIRAS

Como já dito, gestão financeira é saber administrar o próprio dinheiro e fazê-lo render. Para isso, o melhor caminho é aplicar o dinheiro de forma responsável e consciente, o que pode exigir esforços com disciplina e estudos. Fugir dos pequenos luxos do dia a dia a fim de economizar, organizar seu rendimento em tabelas, realizar metas mensais, controlar gastos e buscar conhecimento técnico sobre finanças são pequenos passos que levam a entrar no mundo dos investimentos. 

Compreender e realmente aplicar que os três conceitos acima é o início para trilhar o caminho da autonomia sobre seu próprio dinheiro e então buscar entender COMO fazer seu dinheiro trabalhar para você. Com o mundo dos investimentos, você pode ampliar os horizontes do conhecimento além de grades curriculares da faculdade e deixar de ser escravo do próprio salário e de suas dívidas, garantindo assim se tornar um indivíduo de sucesso, tanto no âmbito profissional quanto no financeiro. 

Mais do autor: 11 DICAS PARA AUMENTAR PRODUTIVIDADE EM TEMPOS DE HOME OFFICE

REFERÊNCIAS

  1. A Rajna. FInancial Management Attitude and Practice among the Medical Practitioners in Public and Private Medical Service in Malaysia. International Journal og Business and Management, Vol. 6, No 8; August 2011.
  2. Site:https://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/medicos-sao-alvo-de-servico-de-planejamento-financeiro/ . Acessado em 21/04/2020.

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  • Caroline Fabro
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  • abril 20, 2020

11 DICAS PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE EM TEMPOS DE HOME OFFICE

O Brasil foi um dos países no mundo com decreto de isolamento social desde que o Novo Coronavírus se mostrou presente em território nacional. Desde então, que a população, incluindo tanto estudantes quanto trabalhadores têm buscado maneiras para praticar o home office com produtividade proporcional à rotina anterior ao COVID-19.  Diversas são as dificuldades encontradas em um ambiente caseiro quando comparado ao ambiente de trabalho. Uma pesquisa¹ demonstrou que, entre as principais dificuldades encontradas por funcionários de uma empresa está no ambiente de trabalho inadequado – a própria casa -, além da perda de comunicação direta com colegas. 

Já para estudantes e acadêmicos, as dificuldades em manter uma rotina de estudos em casa envolvem muito mais uma questão de manejo de distrações e cuidados com rotina. Somado a isso, há aqueles que ainda enfrentam o desafio do Ensino à Distância, uma atividade imposta de forma necessária e  imediata em algumas escolas e universidades. Para você entender melhor sobre custos-benefícios do EAD para o contexto atual, essencialmente no curso de Medicina, você pode acessar nosso outro blog-post, no qual abordamos tal assunto.

No momento que estamos vivendo de pandemia, já entendemos que não podemos estagnar os neurônios, tampouco paralisar pelo medo e incertezas do futuro, mesmo em estado de isolamento. Então, para isso, a MedBeta trouxe onze dicas que podem te auxiliar no manejo do home office associado à manutenção de qualidade de vida e estado psicológico ao enfrentar este cenário. 


1. Rotina e Cronograma são essenciais

Para quem estuda ou trabalha fora de casa, estar em casa neste momento pode fazer seu cérebro interpretar como momento de descanso e procrastinação. A maneira para fugir deste vício é enganando seu cérebro. Como? Crie uma rotina de horários, acordando cedo e dormindo horas proporcionais à época pré-COVID. Não se permita dormir durante tardes inteiras tampouco desenvolver rotina de férias. Somado a isso, desenvolva um cronograma de atividades para o seu dia, trabalhar com metas te fará se sentir mais produtivo e estimulado.

2. Se arrume como se fosse estudar ou trabalhar

Ficar de pijama durante o dia todo pode ser confortável, mas é um hábito capaz de te levar à procrastinação. Associado ao desenvolvimento de uma rotina de horário para acordar, se arrume como se estivesse saindo de casa. Isso auxilia tanto para estimular seu cérebro a funcionar energicamente, como fomenta a auto-estima.

3. Divida seu dia e busque autoconhecimento

Quando me refiro à autoconhecimento, é na busca por entender como você funciona e quais seus horários de maior produtividade. Para isso, divida seu dia em manhã, tarde e noite, e teste durante alguns dias, qual o seu melhor horário para estudo. Há quem funcione bem pela manhã, à quem seja absolutamente produtivo na madrugada. Avalie-se e adeque-se a isso. 

4. Concentre-se

Todo acadêmico já provavelmente viveu dias de estudo que duraram horas com um rendimento de conhecimento próximo de zero. Isso porque, abstrações são reais e perder a concentração pode ser muito fácil. Então, para isso, crie hábitos como desligar o celular durante os estudos para se distanciar de distrações como as redes sociais. Se isto não for suficiente, faça uso de práticas de concentração, como a Prática Pomodoro (alternar 25 minutos de estudo com 5 minutos de descanso), ou com aplicativos de celular que podem te auxiliar nessa função. Alguns que sugiro para você testar e que te ajudam em manter foco e organização nos estudos são: Study, Cram, FlatTomato, AppDetox.

5. Quantidade não é qualidade

No momento de desenvolver o planejamento diário, construindo metas a serem cumpridas, não faça listas com incontáveis objetivos. Isso pode resultar em frustração, por não conseguir alcançar o que foi determinado. Se você não está habituado a estudar ou trabalhar em casa, comece com poucas funções, seja objetivo até a completa adaptação à esta nova rotina temporária. 

6. Arrume um espaço próprio e mantenha-o organizado

Ao passo que não sabemos o tempo que pode durar este cenário de COVID-19, além de rotina, é primordial que se busque um espaço adequado para ser produtivo. Estudos² evidenciam que, seja seu quarto, escritório ou até mesmo a cozinha, criar um espaço e mantê-lo limpo e organizado é essencial para um home office de qualidade. Um ambiente claro e limpo é estimulante para seu cérebro e pode ser uma alavanca para fugir de dias preguiçosos. 

7. Aproveite as oportunidades

Devido à situação de isolamento compulsório, inúmeras empresas estão colaborando com fornecimento de cursos gratuitos ou com altos descontos. Então, busque estudar ou aprender coisas que você já desejava, mas não tinha tempo ou mesmo, desfrute de cursos virtuais para adquirir novos conhecimentos. A MedBeta está junto nessa causa, e está disponibilizando gratuitamente o curso Sinapse para te ensinar métodos e manejo de estudo. Entenda melhor o curso clicando neste link e adquira usando o código FIQUEEMCASA.

8. Se atualize mas não pire

Busque canais de notícia transparentes para estar atento às notícias tanto sobre o Coronavírus, quanto sobre outros acontecimentos nacionais ou mundiais. Plataformas como  Health Clarity e UNASUS são excelentes para atualizações relacionados à pandemia. Todavia, não permita que o contexto atual gere medo e insegurança. Para isso, fuja de manchetes apelativas e catastróficas e sempre verifique se a notícia que te apavora não é uma Fake News.

9. Desenvolva Hobbies

Bem como foi falado anteriormente para criar uma rotina diária de estudos, vale também incluir nisso atividades de lazer. Como fuga da ansiedade, desenvolver atividades que causem distração também são úteis para melhorar a produtividade em momentos de home office. Seja Netflix, pintura ou leitura, reserve um tempo para um hobbie. 

10. Cuide do seu corpo e mente

Um debate fortemente discutido ultimamente é a manutenção do estado psicológico ocasionado por um confinamento imediato e por tempo indeterminado. Não permita que este cenário cause consequências prejudiciais à sua saúde física e mental. Portanto, entenda que não existe ambiente melhor que sua própria casa para iniciar uma dieta e não cair em tentações. Além disso, mesmo que distante de academias, busque exercícios aeróbicos em canais como Youtube ou Instagram para fazer em sua própria sala de estar. Somado a isso, preserve sua sanidade mental, criando estímulos positivos. Isso pode ser feito com leituras alheias à pandemia, prática meditações, ou até mesmo, dedicar um ou dois dias para não se cobrar e esquecer um pouco as metas de produtividade.

11. O isolamento é físico, não social.

Por mais que usemos a expressão de “isolamento social”, este termo está errado, ao passo que devemos nos isolar apenas fisicamente. Manter um contato social com seus amigos, familiares e colegas de trabalho é essencial para que você não se sinta numa bolha intransponível. O ser humano é um animal social, não permita que nosso cenário atual mude isso.

Referências:

  1. Morikawa, M. COVID-19, teleworking, and productivity. Acessado em: www.voxeu.org em 16 de abril de 2020. 
  2. Lane, IA., M.G., & Costa, A. (2020). Working from Home During The COVID-19 Pandemic: Tips and Strategies to Maintain Productivity & Connectedness. Worcester, MA: University of Massachusetts Medical School, Department of Psychiatry, Implementation Science and Practice Advances Research Center (iSPARC), Transitions to Adulthood Center for Research.
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  • Caroline Fabro
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  • abril 13, 2020

Imagem profissional: o médico deve se preocupar com sua aparência?

“É um ponto importante para o médico ter uma aparência agradável, porque aquele que não cuida do próprio corpo não está em condições de se preocupar com os outros.”¹ Esta frase foi dita por nada menos que o próprio pai da Medicina, Hipócrates, a cerca de 2.000 anos atrás. Isso evidencia que as relações humanas envolvem aspectos de comunicação tanto verbal, quanto não verbal, e isso é capaz de influenciar diretamente na forma como um indivíduo reage ao outro, essencialmente dentro da área da saúde, quando nos referimos à relação médico-paciente. 

A imagem clássica de um médico, quando se pensa na sua figura, é um indivíduo com roupa formal, um jaleco e um estetoscópio no pescoço. Nisso, já nos é evidente que a vestimenta do profissional não se tornou apenas uma maneira para identificá-lo como médico, mas representa um fator importante na relação médico-paciente, a qual soma seriedade e profissionalismo, significando que isso pode ser algo essencial na conquista da confiança do paciente. Isso porque uma consulta não se restringe apenas à linguagem verbal, mas outros componentes como vestimenta, comportamento, expressões e forma de falar. Tudo isso compõe uma linguagem não verbal essencial no atendimento médico.

Bem como um médico é capacitado a avaliar um paciente como um todo, observando-o desde o momento que ele entra no consultório, um médico também é constantemente avaliado visualmente pelo seu paciente.  Isso porque, da mesma forma que o profissional observa a forma de andar, a forma de falar e se expressar do paciente para levantar dados clínicos, a própria forma de se vestir, de expressar sorrisos ou seriedade no olhar, ou então como ele aborda verbalmente seu paciente pode ser bem ou mal visto pelo paciente.

 O Rapport, expressão francesa muito ensinada no curso médico, que significa a construção da relação médico-paciente, não se restringe apenas à forma de criar uma anamnese do médico, mas a forma que ele pode reprimir ou desinibir seu paciente.

O uso de calças compridas, sapato, e principalmente jaleco não possui apenas uma função de imagem, mas também de proteção pessoal. Heesu Chung et al evidenciaram em um estudo que o uso do jaleco branco é predominantemente melhor visto pelos pacientes, ao passo que esses se sentem melhor acolhidos quando recebidos desta forma, pois a expectativa do paciente concorda com a imagem do médico que o recebe¹.  Além disso, a própria vestimenta branca passa uma imagem clara de limpeza e organização. Entretanto, a imagem do médico não se restringe à vestimenta, mas ao seu comportamento verbal e não verbal diante do enfermo. 

Estudos demonstram que mais de 50% dos sentimentos são expressos de forma não verbal; comportamentos como o simples ato de chamar o paciente pelo nome ou expressar sorrisos durante uma consulta, além de manter maior contato visual, faz com que o paciente sinta-se acolhido, aumentando assim a sua satisfação com o atendimento².  Somado a isso, boa parte dos pacientes acreditam que um médico sorridente não apenas ajuda na consulta, como é capaz de auxiliar até mesmo na recuperação do indivíduo. Já médicos com posturas sérias demais acabam aumentando o distanciamento na relação médico-paciente, podendo assim até mesmo prejudicar a construção da anamnese e exame físico.  Assim, já não é mais recente a preocupação com a imagem visual do profissional médico, e estudos acadêmicos evidenciam que cada vez mais este fator é significativo para o investimento profissional³. Isso porque a linguagem pré-verbal é capaz de criar um preconceito não apenas com o público de pacientes, mas com outros profissionais do meio de trabalho. 

Justamente porque o médico não é avaliado constantemente apenas pelo seu público de pacientes, mas também pelos profissionais que o acompanham diariamente, como colegas de trabalho e de negócios. Uma boa aparência somada à atitudes e comportamentos ponderados são associados a profissionais responsáveis e respeitados, que tendem a se destacar no próprio ramo. 

Dessa forma, é muito válida a preocupação visual que Hipócrates já demonstrava à figura médica. Essa sinalização que já vem de muito tempo atrás nos chama atenção para um aspecto muitas vezes renegado pelos profissionais da área médica: imagem pessoal conta muito para a satisfação do paciente quanto ao tratamento.

A ciência e a boa prática médica evidenciam que o médico precisa investir em elementos que estão para além da técnica. O profissional de hoje, para se destacar no mercado, deve se preocupar com outros pontos que fazem total diferença no resultado do seu sucesso. Imagem pessoal, portanto, é um desses elementos e a ciência não nos deixa mentir.

Referências:

  1. Chung H, Lee H, Chang DS, Kim HS, Lee H, Park HJ, Chae Y. Doctor’s attire influences perceived empathy in the patient-doctor relationship. Patient Education and Counseling 89 (2012) 387-391.
  2. Rossi-Barbosa LAR, Lima CC, Queiroz IN, Fróes SS, Caldeira AP. A Percepção de Pacientes sobre a Comunicação não Verbal na Assistência Médica. Revista Brasileira de Educação Médica 34 (3):363-370, 2010.
  3. Porto, CC. A aparência do médico… E do estudante de medicina. Rev Med Minas Gerais 2015; 25(4): 605-606. DOI: 10.5935/2238-3182.20150129
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  • Caroline Fabro
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  • abril 6, 2020

Medicina e Ensino à Distância: uma medida urgente

A modalidade de ensino à distância é uma realidade para muitos cursos superiores tanto no Brasil quanto no mundo, mas para os cursos da área da saúde, especialmente medicina, é uma possibilidade ainda pouco indagada no país. Este tema tomou mais força neste momento devido à pandemia do COVID-19 e o isolamento social obrigatório, descontinuando, assim, as aulas presenciais em todas as faculdades do país.  Mas, será que educação virtual seria algo apenas momentâneo para o contexto atual ou já é algo a se pensar como real no âmbito da educação médica brasileira?

Com mais da metade dos estudantes no mundo estando sem aula, somada às restrições de transporte e serviços¹, o Ministério da Educação emitiu uma portaria no dia 19 de março autorizando assim que as universidades superiores de todo país realizem atividades online para reduzir os atrasos de calendário acadêmico. As disciplinas que se enquadram nesta medida são de cunho teórico-cognitivo incluindo os primeiros quatro anos do curso de medicina. Além disso, Luiz Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação frisa a necessidade no cumprimento da legislação educacional, prezando pela qualidade no ensino, independente da forma de transmissão de conteúdo².

Então, neste cenário de mudanças rápidas e incertezas, o EaD certamente é uma ferramenta que será usada e poderá sair de apenas uma solução de um problema pontual e emergencial para uma ferramenta definitiva para as faculdades de medicina no Brasil. Um ponto importante a ser levantado é a possibilidade de flexibilização e manejo do tempo individual de cada estudante quando em uso de conteúdo online. Isso porque, a disponibilidade de aulas gravadas permitem ao aluno maior liberdade para garantir atenção total ao conteúdo ofertado, assistindo-o quantas vezes for necessário. Nesta premissa ainda cabe um maior tempo aos professores que podem desenvolver outras atividades teóricas ou práticas com os acadêmicos, focando sua didática de formas diferentes. 

Há quem questione se, ao mudar o meio tradicional de ensino do presencial para o online, a qualidade do aprendizado seria prejudicada. Entretanto, um estudo publicado no ano de 2020 na JAMA³ avaliou estudantes do curso médico na Universidade da Pensilvânia, e evidenciou que quando os alunos foram submetidos à aulas virtuais que determinavam sua pontuação final, a dedicação no estudo era relevante, com 70% dos alunos retendo o conteúdo. Ao se aplicar isso ao primeiro ano do curso, a retenção do conteúdo chegou a quase 90% da turma. Este é um dado gritante, quando se compara à aulas presenciais que incapacitam o aluno a manter concentração total à aula, reduzindo também seu interesse ao conteúdo. Neste parâmetro, a persistência e motivação para aprender individualmente deve ser visto como algo positivo para o crescimento profissional de cada aluno, e isso é uma ferramenta que o ensino médico à distância oferece.

Outro dado relevante que o artigo trouxe, foi da alteração na carga horária na divisão entre teoria e prática nas escolas médicas que aderem ao EaD. Isso porque, quando o aluno tem chance de dedicação ao conteúdo teórico fora da universidade, há uma maior disponibilidade de tempo para dedicação à prática clínica, que soma de forma expressiva na formação do médico. Além disso, ferramentas como webconferências e o próprio whatsapp permite uma maior interação continuada entre os alunos e professores, com compartilhamento de experiências e dúvidas. Este é um fator essencial na redução das dúvidas geradas durante as aulas, contrapondo o cenário tradicional de aulas presenciais, em que alunos sentem grande inibição para questionar ou tirar dúvidas com seu tutor.

Já, quando se pensa no valor das escolas médicas na formação acadêmica, o Ensino à Distância não precisa ser visto como um distanciamento, mas como uma ferramenta para adequar a formação no contexto do mundo virtual que se vive. Além de direcionar professores para uma educação prática, colocando-os num papel de supervisão e educação clínica, o ensino médico à distância tem o poder de levar conteúdo de forma hegemônica para acadêmicos, rompendo barreiras físicas e dificuldades de locomoção que muitos sofrem ainda atualmente. Todo este panorama já é visto e compreendido por diversas empresas, incluindo nós da MedBeta, que produzem e oferecem conteúdos de forma completamente virtual.

Dessa forma, medidas emergenciais tomadas em época de Pandemia podem ser medidas permanentes, ou ao menos inspirar inovações para o contexto de educação médica brasileira, ao passo que a digitalização do conteúdo não apenas democratiza o conhecimento, quebrando barreiras físicas, como preza pela manutenção da saúde mental do acadêmico de medicina, que muitas vezes se vê confinado em salas de aulas de forma obrigatória, movido apenas por uma presença obrigatória. Então, a tecnologia mais uma vez se prova uma ferramenta não apenas útil, mas podendo ser primordial na elevação de qualidade para qualquer pilar social, sendo crucial na era do COVID-19 tanto para a própria medicina, como para a educação médica em si.

Fontes:

  1. https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/03/18/unesco-metade-dos-estudantes-do-mundo-sem-aulas-por-conta-da-covid-19.ghtml
  2. https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-03/instituicoes-de-ensino-superior-migram-para-ensino-distancia
  3. Ezekiel K. Emanuel, MD, PhD. The Inevitable Reimagining of Medical Education, JAMA. Publiched online February 27, 2020.
  4. https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/ministerio-da-saude-regulamenta-uso-de-telemedicina-para-combater-coronavirus.shtml


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  • Zaleski Kaniski
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  • setembro 2, 2019

A matéria acumulou. E agora?

Ep#36 – “A matéria acumulou. E agora?”

Esse episódio é basicamente um passo a passo, para você que está com a matéria acumulada. Para que você possa utilizar uma boa estratégia para otimizar o seu tempo e também os seus resultados. A realidade é que quando não temos estratégia a nossa produtividade diminui muito.
É a disciplina que nos liberta nesse caso.

Então vamos ao passo a passo! 

  • Enumere todas as matérias que você precisa desacumular. Isso pode até te deixar nervoso, mas você precisa enfrentá-las! Só tendo a real noção do “problema” que você conseguirá solucioná-lo.⠀
  • Estabeleça uma ordem de prioridade. Para isso, pense nos seguintes fatores: matéria mais difícil, matéria mais importante, prova que está mais perto, matéria que está mais acumulada.⠀Você deve levar em consideração esses fatores para entender o que deve estudar primeiro. 
  • Enumere, em ordem de prioridade, as aulas/capítulos/conteúdos que serão estudados.

Uma pausa para dizer para vocês: NÃO PIRE se são muitos, ok? Só escreve e enumera!⠀

  • Agora, encaixe-os na sua rotina. Esse é o seu check list. Sempre deixe ele a  mostra, carregue com você. Você vai seguir essa ordem de prioridade nos seus horários de estudos.E sobre rotina: tudo que fizemos até agora é para definir prioridades, então pode ser que você tenha que remanejar alguma outra atividade para conseguir encaixar esses estudos. Lembre-se tempo e foco são questões de prioridade. 
  • Estude. Sente e estude. Não procrastine! 
  • Risque as concluídas! Isso dá sensação de dever cumprido e gera motivação
  • Não deixe de estudar o conteúdo novo para desacumular. Vá encaixando o conteúdo novo na sua rotina, junto com as matérias acumuladas (se não, você fica com uma lista de acúmulo sem fim).⠀

Ah, e não se esqueça que descansar e se divertir é fundamental. Sempre em equilíbrio. Nós temos até um post falando sobre : http://34.239.172.47/wordpress/2019/07/08/a-importancia-do-descanso-na-vida-academica-e-medica/

Por hoje é só pessoal! Faça parte do grupo de acadêmicos de medicina privilegiados e receba Podcast exclusivos via WhatsApp, com temas importantíssimo da área da saúde.http://34.239.172.47/wordpress/podcast-medbeta/

Vamos para cima e colocar a vida acadêmica em ordem!
Um forte abraço! 

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  • Thiago Cordeiro
  • Blog
  • agosto 30, 2019

Perseverança Medica !

Podcast #35 Thiago Cordeiro

Nos dois últimos episódios falei sobre Carlos Chagas, um pesquisador que se tornou famoso pela descoberta de uma doença, e falei sobre Oswaldo Cruz, que produziu um grande impacto na ciência brasileira através de seu espírito empreendedor. Hoje iremos falar de mais uma descoberta, mas desta vez não de uma doença e sim de um tratamento e, junto com essa descoberta, a vitória da perseverança.

O médico pesquisador escolhido para o episódio de hoje foi uma sugestão de um de nossos ouvintes do MedBeta Podcast, o Marcello Cesarino. Já citei o nome desse médico aqui anteriormente. Ele foi contemporâneo de Oswaldo Cruz e inclusive foi cuidado por Oswaldo quando trabalharam juntos em 1899 no combate contra a epidemia de peste bubônica em Santos, onde acidentalmente acabou contraindo a doença. O nome do médico de hoje é Vital Brazil Mineiro da Campanha.

Vital Brazil Mineiro da Campanha.
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Campanha/ Minas Gerais

Nascido em 1865, Vital tinha um nome curioso. Filho de Manuel dos Santos Pereira Junior e de Maria Carolina Pereira de Magalhães, recebeu seu nome devido a um costume de seu pai em nomear seus filhos em homenagem ao local onde nasceram. Vital recebeu sua vida no Brasil, em Minas Gerais na cidade de Campanha, por isso seu nome completo é Vital Brasil Mineiro da Campanha.

Desde o inicio de sua trajetória profissional, Vital encontrou muitas dificuldades e obstáculos. Um jovem de origem humilde, ao Chegar no Rio de Janeiro em 1886 para iniciar seus estudos na Faculdade de Medicina da UFRJ, Vital levava consigo diversas cartas de recomendação que seu pai havia conseguido, mas nenhuma produziu frutos, sendo obrigado a trabalhar muito paralelamente aos seus estudos para poder se sustentar. Enquanto lutava para conciliar sua freqüência nas aulas da faculdade, tornou-se escrevente de polícia, dava aulas para as filhas de um fotógrafo em troca de alimentação e lecionava no período noturno no Liceu de Artes e Ofícios.

Ao concluir seu curso, tentou realizar sua tese de doutoramento da época sobre a planta pluméria, muito utilizada para tratar mordidas de cobra, um assunto que o interessava muito. Mas, mais uma vez teve suas expectativas frustradas e não conseguiu o apoio de um orientador para seguir com sua tese, formando-se como médico em 1891, defendendo a tese de “Funções do Baço”.

Após formado, Vital se casou e se mudou para o Estado de São Paulo, onde atuou como médico sanitarista até 1895, quando se mudou para Botucatu a pedido de sua esposa e sua mãe, pois estavam preocupadas com os riscos próprios do trabalho como sanitarista de Vital no contato com doenças contagiosas. Em Botucatu, vital se dedicou à clínica médica e redescobriu seu interesse por plantas e o tratamento de acidentes ofídicos que o acompanharam durante a faculdade. E, após a leitura de um trabalho publicado pelo pesquisador francês Calmette, que abordava a solução de acidentes ofídicos com soroterapia, Vital mudou o curso de seus estudos e utilizou da imunologia e soroterapia para atingir um de seus maiores feitos.

Se mudou de Botucatu para a capital do estado e trabalhando no Instituto Bacteriológico soba a direção de Adolfo Lutz, Vital realizou experimentos em animais de laboratório e conseguiu em 1897 o que até então o soro de Calmette não era capaz de realizar: um soro antiofídico eficaz contra o veneno da cascavel e da Jararaca, que são as principais responsáveis por acidentes ofídicos no Brasil.

Vital, seguiu sua carreira como sanitarista, em 1899, foi o responsável por identificar a peste bubônica como sendo a causadora da já mencionada epidemia em Santos, onde conheceu seu grande amigo Oswaldo Cruz. Regressou à São Paulo para participar da fundação do Instituto Butantan em 1900, que participou ativamente da promoção de saúde pública sendo um grande produtor de soro antipestoso e antiofídico e até hoje persiste como uma referência internacional na produção científica e no manejo de acidentes ofídicos.

Em 1919, após deixar a direção do Instituto Butantan, Vital Brasil foi para o Rio de Janeiro onde fundou o Instituto Vital Brasil que se tornou um centro de pesquisas, ensino, desenvolvimento e produção de medicamentos e também persiste até os dias atuais.

Vital Brazil foi um grande médico, sanitarista e cientista. Mas acima de tudo foi determinado. Não deixou que os obstáculos o abalassem, venceu o preconceito contra suas origens humildes, encarou a faculdade de medicina enquanto trabalhava em três empregos para poder se sustentar e apesar de não poder realizar sua tese sobre o tratamento de acidentes ofídicos em seu doutoramento, perseverou, não só descobrindo o tratamento que ainda nos dias de hoje é utilizado para tratamento de acidentes ofídicos mas também deixou um legado marcado pelos dois institutos de pesquisa e saúde pública que ainda hoje assistem o Brasil: Butantan e Instituto Vital Brazil.

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Instituto Butantan
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Instituto Vital Brazil

Como eu já disse em outros episódios, não basta inteligência para realizar uma descoberta científica. O pesquisador precisa estar preparado, em um contexto favorável. No caso do Vital , ele enfrentou condições que o privaram de seguir sua paixão e mesmo assim não desistiu. Espero que possamos aprender com a história de Vital e não desistir de nossos sonhos e perseverar em nossos propósitos, para quem sabe um dia conquistarmos aquilo que ninguém mais está preparado para conquistar.

Por hoje é só pessoal!

Que a luz do sucesso esteja sempre sobre vocês e até a próxima.

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